Ipsis Litteris

Revisão de textos



terça-feira, 28 de dezembro de 2010

[sem título]

“O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.”

Carlos Drummond de Andrade

 

Olha, Carlos! Olha! Vê a mesa em que, de fato, nos conhecemos. E não é sem uma pequena comoção que eu a olho e meus olhos se querem encher duma fremente tempestade.

Olho-a – e me é inevitável – e alço as lembranças do dia que estudava e tu, ao passares, entrastes, definitivamente, onde – não – devias. Relembro três, sete vezes todos os detalhes e creio que, naquele instante, aquela mesa ter-se-ia tornado juíza do nosso encontro. Não apenas, mas muito mais: permutamos nossa existência, ela e eu.

Olho-a. Sua matéria rude, os ferros enferrujados, exibem o grotesco de artistas malfadados, intalentosos. Ela, suporte grosseiro de braços e nádegas, palco d’amizades e namoros, festas e contendas. Contudo, ela, de dois bancos, dois longos bancos quietos, contemplativos, acompanhada. E, ainda, ela, marco e profeta do nosso encontro, meu e teu.

Olho-a. E nos meus tímpanos cala-se o silvo de Éolo. O pássaro álgido gralha um sol estático. E estou só. Eu, tão móvel, conhecido das gentes. Eu, limpo e sadio, de face e palavra tão agradáveis. Eu, amante e apaixonado. Eu, conhecedor de tanto e mais sábio do que uma… uma mesa de concreto.

Olho-a e a vejo, agora, caída. Há tempos, e ninguém a quis erguer. Restaram-lhe os bancos, que, quietos, a contemplam. Impassivos, talvez choram.

Olho-a caída e sei que também caí. Tombei na vida, tombei no amor. E me escandalizo: como posso ter eu semelhante termo de um concreto, frio, rijo, imóvel? Eu, que tanto corri, tanto amei, tanto sofri. Destino ignóbil para quem, de si, pensava muito ser.

Olho-a e ouço, sozinho que estou, um riso sardônico a me atravessar a espinha. Por uma fera, o fio da vida era uma tenra rosa a despetalar.

Olha, Carlos! Olha! Vê a mesa, nossa mesa tombada! Pois a vida não me quis um coração em pétalas. Colocou-me, porém, uma pedra a no peito pulsar.

Olha, Carlos! Olha! Que o coração que em mim batia é o mesmo que ora vês tombado entre dois bancos, dois longos bancos, quietos e contemplativos.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Era uma vez…

Contos de fada. Quem nunca ouviu ou contou um deles, mesmo que pelas metades? Quantas histórias, quantas versões! Herdeiros da narrativa oral, muito se discute sua natureza pedagógica e moral, visto que algumas versões de contos de fadas mais conhecidos apresentam, e. g., cenas de adultério, incesto, canibalismo e morte hedionda.

Sheldon Cashdan, em Os 7 pecados capitais nos contos de fadas: como os contos de fadas influenciam nossas vidas (2000), aponta: “é por isso que muitos dos primeiros contos de fada incluíam exibicionismo, estupro e voyeurismo. Em uma das versões de Chapeuzinho Vermelho, a heroína faz um striptease para o lobo, antes de pular na cama com ele. Numa das primeiras interpretações de A Bela Adormecida, o príncipe abusa da princesa em seu sono e depois parte, deixando-a grávida”.

E dentre as diversas versões de Chapeuzinho Vermelho, existe uma, exótica e moderníssima, que muito me apraz. Na verdade, trata-se de uma música: composição de Dero, Crap e Flux, integrantes da banda alemã Oomph!, Wer schön sein will muss leiden conduz o leitor/ouvinte diretamente à cena em que Chapeuzinho Vermelho (Rotkäppchen), diante da vovó (Großmutter) transfigurada, questiona-lhe certos atributos físicos.

Com o advento de modernos procedimentos estéticos de efeito praticamente instantâneo – cirurgia plástica, toxina botulínica, lipoaspiração, bioplastia, implante de silicone, alisamento capilar etc. etc. – a preços módicos e a vulgarização do corpo fit como modelo de saúde, não faz mais sentido a tradicional figura da nonna gorduchinha e de cabelos brancos enrolada num avental preparando docinhos para o lanche dos netos pentelhos ou esticada na espreguiçadeira diante da TV assistindo ao Baú da Felicidade.

Aliás, a velhice não existe mais, nem mesmo a inatividade senil. Hoje, fala-se em melhor idade, mais uma fatia da sociedade em que se aplicarem as financeiras, as indústrias do entretenimento, as agências de turismo. Laboratórios farmacêuticos e drogarias é que se devem estar rebolando para não perder uma parcela considerável de lucro.

Em breve, até Papai Noel vai aparecer enxuto e de barba aparada velejando os sete mares e jogando bocha ou golfe, se não quiser ser imortalizado como somatótipo propenso a infarto, dores reumáticas, mal de Alzheimer e uma série de outros males relacionados a peso e a idade. Sem contar questões de proteção aos animais que pesem positivamente para o lado das renas…

Segue, então, letra e tradução da música

Warum hast Du so große Augen | por que tens olhos tão grandes?
Warum hast Du so straffe Haut | por que tens pele tão esticada?
Warum hast Du so große Brüste | por que tens seios tão grandes?
Warum bist Du so gut gebaut | por que estás em tão boa forma?

Großmutter, Großmutter | vovó, vovó,
warum bist Du noch so jung | por que és ainda tão jovem?

Wer schön sein will muss leiden, mein Kind | quem quer ser jovem deve sofrer, minha criança
Die Welt wird Dich beneiden, mein Kind | o mundo vai te invejar, minha criança
Weißt du nicht, wer seine Seele an die Hölle verkauft | não sabias que quem vende sua alma para o inferno
wird immer jung sein, schön und schlank mit flachem Bauch | será sempre jovem, belo, e magro com barriga tanquinho?
und ich weiß, dass willst Du auch | e eu sei que você também quer

Warum hast Du so schlanke Beine | por que tens pernas esguias?
Warum hast Du so volles Haar | por que tens cabelos cheios?
Warum hast Du so dicke Lippen | por que tens lábios grossos?
Warum bist Du so sonderbar | por que és tão extravagante?

Hör mir zu | escuta-me

Wer schön sein will muss so viel Schmerz ertragen | quem quer ser bonito deve suportar muita dor
drum schau mir bitte nicht ins Herz, mein Kind | por favor, não me olhes no coração, minha criança
Wer schön sein will muss viele Wunden haben | quem quer ser bonito deve ter muitas feridas
drum schau mir bitte nicht ins Herz | por favor, não me olhes no coração

Weißt du nicht, wer seinen Körper in der Hölle bestellt | não saber que quem encomenda seu corpo no inferno
bleibt immer jung, hat viel Erfolg und schwimmt im Geld | fica sempre jovem, tem muita sorte e nada em dinheiro
und das ist es doch was zählt | e o que importa mesmo é isso

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Quando Chico Buarque e Rammstein se encontraram

Comecei a curtir Rammstein muito antes de começar a aprender alemão. Na verdade, o que mais me motivou a procurar um curso de língua alemã foi justamente esse contato com a língua de Brecht, Kafka, Goethe. Mesmo gostando muito da banda, na terça-feira passada (30/11), abri mão da oportunidade de assistir à segunda apresentação dos caras aqui no Brasil, a turnê de Liebe ist für alle da (2009), não pelo preço do ingresso (consideráveis R$ 200 pelo mais barato!), mas por uma espécie de oclofobia (tenho mesmo é medo de ser pisoteado, devido à minha altura…!).

Mas me fartei de escutar o LIFAD, o mais recente álbum da banda. E futricando pela net, descobri que a quarta faixa desse álbum, Haifisch, intertextualiza com uma das canções do musical Die Dreigroschenoper (1928), Die Moritat von Mackie Messer, o que, imediatamente, me lembrou Chico Buarque. Chico Buarque? Sim, o bom e velho Chico: a primeira e a última canções da Ópera do Malandro, de 1979, são uma versão em português da canção em alemão.

Die Dreigroschenoper é um musical composto pelos alemães Bertolt Brecht, poeta, diretor e dramaturgo, e Kurt Weill, compositor. Em tradução livre para o português, o título traduz-se algo como A Ópera de Três Vinténs, “planejada de forma tão pomposa, como só um mendigo poderia sonhar, e porque ela deveria ser tão barata, que até os mendigos possam pagar”, numa clara crítica ao mundo capitalismo. Inspirada na ópera de balada de John Gay The Beggar’s Opera (1728), Die Dreigroschenoper narra o desfecho trágico de um notório criminoso – MacHeath, popularmente conhecido como Macki Messer – da Londres vitoriana, cujos atos se emaranham com as atividades ilícitas da polícia e de banqueiros. Há adaptações para o cinema e, mais recententemente, para a televisão (2004).

A canção de abertura do musical de Bertolt e Weill, Die Moritat von Mackie Messer, fez estrondoso sucesso e já rendeu mais de 30 versões (e outras tantas referências), desde a primeira execução da ópera, entre elas a de Chico Buarque, para o musical Ópera do Malandro – posteriormente também ganhou adaptação para o cinema (1985), que narra a história de Max Overseas e seu envolvimento com atividades ilícitas.

Haifisch não é exatamente uma nova versão de Die Moritat, mas sugere intertextualidades. O título traduz-se por tubarão em português, peixe com o qual MacHeath é comparado – enquanto o tubarão mostra os dentes (Zähne) na cara, a faca (Messer) de MacHeath ninguém vê:

Und der Haifisch, der hat Zähne
Und die trägt er im Gesicht
Und MacHeath, der hat ein Messer
Doch das Messer sieht man nicht

Diferentemente, o texto de Rammstein não se refere diretamente a algum criminoso e, no contexto geral do álbum – o amor é para todos aí – parece apontar para a velha fórmula “os brutos também amam”:

Und der Haifisch, der hat Tränen
Und die laufen vom Gesicht
Doch der Haifisch lebt im Wasser
so die Tränen sieht man nicht

Tubarões também amam. E choram, mas suas lágrimas  (Tränen) não são vistas, porque vive de baixo d’água – e suas lágrimas é que salgam o mar:

Und so kommt es dass das Wasser
in den Meeren salzig ist

Além do mais, ambos os textos mantêm versos heptassílabos como padrão métrico.

Assim, não é à toa que em minha biblioteca de música Chico Buarque e Rammstein cantam sempre no mesmo palco. Um artista que se preocupa em conferir sentido ao que produz merece ser ouvido, visto, sentido etc. etc.

sábado, 27 de novembro de 2010

Afinal, o que querem as mulheres?

Apesar do horário, estou me divertindo com a minissérie global Afinal, o que querem as mulheres?. A quebra do ritmo linear da história, o figurino, a metalinguagem, as cores fortes, a poesia na fala dos personagens, tudo muito interessantemente combinado para narrar a repercussão de uma tese de doutorado em psicologia. E também abertura não poderia deixar de chamar a atenção: a colagem de recortes de pinturas e fotos e, em especial, a letra da música de abertura, que ricamente abusa da composição por aglutinação e dá forma a cômicos neologismos e uma profusão de mulheres e desejos eróticos que elas suscitam.

Observanessa, perceberenice, arriscamila,
Embromárcia, aproximargareth,
Conversarah, envolverônica, submetereza

Sentirene, conquistarlete, mescláudia,
Lambeatriz, abraçabrina,
Mordenise, amaria, beijanaína

Ligou o nome à pessoa, perdoa, pessoa...

Agradesimone, esclareceleste, buscarmen,
Surtatiana, pensophia
Vacilaura, enciumonique, engolívia

Desejanice, agarraquel, roubárbara,
Ligabriela, esquecelina
Provocarla, concordana, suplicarolina

Ligou o nome à pessoa, perdoa, pessoa...

O uso estilístico da composição como processo de formação de palavras escolhido pelo autor da música aproxima uma determinada mulher de uma determinada ação. A composição por aglutinação vai além: a mulher e a ação se fundem, se misturam, uma é a outra, uma qualifica a outra. O refrão, em tom ambíguo, ao mesmo tempo que reforça essa ligação física mulher-ato, deixa transparecer a tentativa do eu-lírico de falar com "meias palavras" (literal e metafóricamente) a respeito de seus desejos e das mulheres que lhos provocam.

domingo, 21 de novembro de 2010

Sartre explica

Assisti ontem ao documentário Chico Buarque – Vai Passar. Sou louco por Chico. Amo aquelas músicas que cantam a alma feminina.

E ouvir um artista falar de sua própria obra é sempre revelador e, por vezes, desconcertante, pelo menos para os estudiosos da sua obra. No referido documentário, Chico, entre outras coisas, afirma que Apesar de você não foi endereçada a Emílio Garrastazu Médici, presidente do Brasil entre 1969 e 1974; e, respondendo ao questionamento de um estudante, nega que sua obra musical seja cronologicamente divisível em poética e engajada.

A partir de considerações como estas, um sem-número de teorias e estudos perdem seu fundamento, mas não sua legitimidade enquanto possibilidade de interpretação, pois, como sustenta Sartre, em O que é literatura, o objeto literário, segundo Sartre, é como um pião que somente existe enquanto em movimento.

Explico-me. Segundo Sartre, o autor não escreve para si mesmo (o que seria o pior fracasso), mas para os outros. Ao leitor, que deve ser distinto do autor, visto que o ato da leitura implica expectativa, cabe a missão de completar o projeto empreendido pelo autor em sua obra: transformar o mundo e assegurar a liberdade (de existir).

Ora, autor e leitores têm suas próprias experiências de vida (Erlebnis, em termo heideggeriano), o que implica expectativas – que se confirmam ou se refutam – e tomadas de posição dos leitores em relação à obra que leem.

Assim, aceitando-se o fato de que o sentido não é imanente à obra, mas uma relação construída entre autor e leitores e todas as implicações históricas, sociais, culturais etc. etc., pode-se legitimamente relacionar Apesar de você a Médici e, pelo menos, didaticamente, dividir a obra buarquiana segundo critérios poéticos e críticos.

domingo, 3 de outubro de 2010

Dilema

O momento exige uma tomada de decisão. E rápida. Friamente pensando, a situação é simples: basta dizer 'sim' para um e 'nao' para os demais. Na verdade, é mais simples ainda, visto que a escolha de um automaticamente comporta a renúncia aos demais.
As alternativas: o cargo público conquistado mediante aprovação em concurso público ou a viagem há sete meses aguardada com sonhos e investimentos da ordem de R$ 5 mil. O dilema: a viagem foi organizada antecipadamente para se alcançarem bons descontos e deveria coincidir com o período de férias, não concedido - ainda que muito assediado -, única e exclusivamente pela absoluta indisposição da Adiministração Pública, o empregador, depois de 14 meses de 'burrificação' à frente do cadastramento do Bolsa Família - e outros beneficitos más. Na tentativa de somar os ganhos de ambas as opções, a peça fundamental não foi movida, e um plano B se faz necessário. Minha cabeça está às voltas com as oportunidades e a razão tenta dimensionar os novos caminhos que aguardam uma resposta: exoneração, processo adiministrativo, exceção, frustração...
Enquanto isso, a areia esvai-se de um bulbo para o outro, e o momento da decisão se aproxima.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Mecônio...

Colostro: o primeiro leite materno.
Menarca: o primeiro fluxo menstrual.
Agora, nome para primeira cagada na vida ninguém merece. Afff!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Faixa da minha trilha sonora pessoal

Oh these little rejections how they add up quickly
One small sideways look and I feel so ungood
Somewhere along the way I think I gave you the power to make
Me feel the way I thought only my father could


Oh these little rejections how they seem so real to me
One forgotten birthday I'm all but cooked
How these little abandonments seem to sting so easily
I'm 13 again am I 13 for good?


I can feel so unsexy for someone so beautiful
So unloved for someone so fine
I can feel so boring for someone so interesting
So ignorant for someone of sound mind


Oh these little protections how they fail to serve me
One forgotten phone call and I'm deflated
Oh these little defenses how they fail to comfort me
Your hand pulling away and I'm devastated


When will you stop leaving baby?
When will I stop deserting baby?
When will I start staying with myself?


Oh these little projections how they keep springing from me
I jump my ship as I take it personally
Oh these little rejections how they disappear quickly
The moment I decide not to abandon me

(So Unsexy – Alanis Morissette)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Aprendi com o Farmville!

É bem verdade que o Farmville acabou se tornando um vício para mim. Resisti muito e por muito tempo a me entregar a esse joguinho, aparentemente, tolo.
Fato é que sou hoje farmvillemaníaco e até meus conhecimentos botânicos e faunianos melhoram muito. Acreditava piamente (e ainda acredito, mas com certa reserva agora) que não existiam frutas azuis. E por uma razão nada científica: azul é uma cor máscula; fruta é sinônimo de gay; logo, não poderia haver fruta azul. Entendeu?
E o Farmville jogou areia na minha (pseudo)teoria, apresentando-me um tanto de “berries”: cranberries, blackberries, elderberries, raspberries, strawberries e – tchã-rã-rã-rã – BLUEberries (!), cujo nome científico é Vaccinium myrtillus.
Um pouco de biologia…
Nativo da Europa e da Ásia, o Vaccinium myrtillus, popularmente conhecido como mirtilo (outros nomes: arando, uva-do-monte, vacínio), é um subarbusto da família das ericáceas, atinge no máximo 60 centímetros de altura e se caracteriza por folhas ovadas, agudas, finamente denteadas, flores esverdeadas ou róseas e pequenas bagas globosas azuladas (definição do dicionário Houaiss).
… de dicionário…
Cada fruto do mirtilo é uma baga, ou seja, um fruto simples, carnoso, indeiscente (que não se abre naturalmente ao atingir a maturação), frequentemente comestível, com um ou mais carpelos e sementes (como o tomate, a uva e o mamão).
… de gastronomia…
O mirtilo é muito cultivado pelos frutos doces, usados em geléias, tortas e bebidas alcoólicas, cujas cascas melhoram a visão noturna.
… e de filosofia.
Segundo o dicionário Houaiss,  azulado é aquilo “que tem cor tirante a azul, ou que a ele se assemelha”, portanto, não é azul. Ora, se o fruto do mirtilo é uma baga globosa azulada, minha teoria não foi ainda derrubada.
A menos que uma outra candidata a fruta azul seja apresentada, minha convicção continua.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Eu também!

Julieta: Oh, Romeu! Eu te amo!

Romeu: Eu também, Julieta!

Uma patética cena de amor... Patética pode até ser, mas amor? Tenho dúvidas. Pelo menos da parte de Romeu (rsrs). É aquele 'também' que gera minha desconfiança quanto aos sentimentos de Romeu. Ora, o singelo advérbio expressa condição de equivalência/similitude. Em

A: Gosto de morango

B: Eu também (gosto de morango),

o objeto do gosto de B é equivalente, similar ao do gosto de A, ou seja, morango. Aplicando-se o mesmo raciocínio à resposta de Romeu, temos:

J: Oh, Romeu! Eu te (Romeu) amo!

R: Eu também (amo Romeu, digo, eu mesmo), Julieta!

No diálogo (A-B), 'também' faz referência a um terceiro elemento, que não coincide com nenhum dos interlocutores, diferentemente do diálogo (J-R), em que não há esse terceiro elemento, e o exagerado amor-próprio, o egoísmo, a vaidade, a imodéstia, a soberba e a autofilia de Romeu são mascarados justamente pelo singelo advérbio.

Muita atenção quando ouvir um rápido "eu também" como resposta ao seu "eu te amo", há um ébrio aroma de egoísmo no ar...

domingo, 11 de julho de 2010

Alimentos diet e light

Para os desinformados (como eu...)
Apesar de a Portaria da Anvisa nº 29, de 13 de janeiro de 1998, não usar propriamente os termos diet e light, os nutricionistas ensinam:
  • diet são alimentos isentos de um determinado nutriente (carboidratos, gorduras, proteínas, sódios), para dietas com restrição de nutrientes ou ingestao controlada de alimentos; nem todos os alimentos diet tem redução significativa na quantidade de calorias;
  • light são alimentos que apresentam redução mínima de 25% de determinado nutriente ou de caloria.

Agora, por serem adjetivos em inglês, não nos esqueçamos: na língua do Tio Sam, adjetivos não são flexionados nem quanto a gênero, nem quanto a número: produtos light, gelatina diet, etc. O termo 'dietético' é uma alternativa mais patriótica. Além do mais, quando usar uma palavra ou expressão própria de outro idioma, aplique um grifo (negrito, itálico ou sublinha).

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Profissão do car#$%@#$

Fiquei atônito quando, quase um ano após o lançamento, “descobri” o videoclipe de Pussy, do Rammstein. E vi logo a versão não censurada. Pasmei com a ousadia dos caras.

Já recuperado do fato, nesta semana, outra surpresa. Às vezes não acredito no quanto sou inocente. Como é que até hoje, quase 30 primaveras nas costas, eu não sabia que existia uma tal profissão chamada, em inglês, fluffer?

Segundo o Urban Dictionary, fluffer é "a person in the adult entertainment industry whose job is giving male porno stars blowjobs in order to get them ready to perform".

Esse sim é o verdadeiro boqueteiro, e mais: ganha pra fazer isso! Será que tem plano de carreira, convênio médico-odontológico? De repente, né...! Rsrsrs.

Um personagem de Chico Anysio, uma prostituta bem velha requerendo aposentadoria, diz: "Copo d'água e um boquete não se nega [sic] a ninguém." Huahuahua

sábado, 27 de março de 2010

Apontamentos de gramática mineira

Sem dúvida, Minas Gerais tem uma cultura bem peculiar. Amo a cozinha mineira (não mais que a italiana, por motivos óbvios): costelinha de porco beeeeem gordurosa, polenta, quiabinho babento, jiló. Sim, jiló! Aprendi a comer jiló em Uberlândia, quando da decisão de superar alguns “limites gastronômicos”. Prefiro-o como prato frio, mas é bom de qualquer jeito.

Agora, é o jeitinho mineiro de falar que me diverte e espanta, às vezes. Em Uberlândia mesmo, não ouço muito o “mineirês” característico gostoso e engraçado, do tipo “oncotô”, “proncovô” e “doncovim”, naquela prosódia própria.

Entretanto, são recorrentes algumas expressões que muito me impressionam. Uma sobre que gostaria de falar é o tal “ir de a pé”. De a pé? Como assim?! Vai-se de carro, de ônibus, de avião, mas a pé, a cavalo. Talvez, para o mineiro uberlandense, o meio de locomoção seja o [carro], o [ônibus], o [avião], o [a pé], daí ir-se de carro ou de a pé. Contramão na via da economia linguística. Curiosamente, nunca ouvi um “Vou ‘de a cavalo’”.

Mas o que mais me choca é o uso deliberado do verbo dar em lugar de ter, em sentenças como “dei febre” e “dei sorte”. Excesso de generosidade? Se conheço quem me diz uma dessas pérolas, complemento com aquelas perguntinhas básicas didaticamente usadas para se encontrar o objeto do verbo: “E pra quem você deu a febre (ou a sorte)?”.  O riso, nessa hora, parece inevitável. Sorte eu até aceito, mas febre, dor de cabeça, não, obrigado. Absolutamente! Com estas fique você.

domingo, 14 de março de 2010

Software do car@#$¨$%!


Na quinta-feira passada, estava eu tentando baixar não sei o quê, quando tive a “grande” ideia de usar um tal Nitro PC para otimizar o desempenho do meu querido e companheiro Note. Eis uma das grandes burradas que já fiz até então.

Abri o tal do Nitro PC, cliquei na opção “Otimizar”, segui as devidas instruções e reiniciei a maquina, conforme orientação do software. Inicialização do POST ok, inicialização do Windows quase ok. Surgiu um Blue Screen Error. Quase enfartei. Tenho verdadeiro pavor dessa tela azul (depois vou lá no Orkut ver se já existe comunidade dos odiadores dessa telinha do capeta; se não houver, criá-la-ei!).

Mexe de cá, fuça ali e nada. A dita cuja encarnou no Note. Assistência técnica autorizada somente de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h. E um monte de trabalho parado e urgente dependendo à espera da minha máquina e dos meus dicionários.

Mas o sangue brasileiro que ainda corre em minhas veias não me deixou desistir e, valendo tudo ou nada, apostei na última ferramenta que o “Setup” fornecia: “Dell DataSafe Local Backup” (DDSLB).

Santa Ferramenta! Restaurou todas as configurações para aquelas de quando eu iniciei o notebook pela primeira vez, mas TODOS os meus arquivos estavam lá. Na verade, a maioria, porque só me restaram os que estavam na partição que criei. Arquivos e softwares adicionados ao C: se perderam. Dos males, o menor… Mas me saí muito bem, afinal, sou completamente leigo em recuperação de computadores.

Cerca de uma hora depois do início da execução do DDSLB, eu já podia ver a área de trabalho. Agora é adaptá-la novamente às minhas necessidades e devolver os softwares de que preciso para o desempenho de minhas funções e fruições.

Placar final: Dell 1 x 0 Nitro PC. Tinha já bastante satisfação pela marca do Note; agora, então, serei um solene divulgador e usuário apaixonado pelo meu vermelhinho.



PS: Nitro PC nunca mais!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Órfã



Já faz uma semana desde que assisti a "A Órfã" ("Orphan", 2009) e ainda estou doido para comentar o filme com quem também o tenha visto.

Discordo da classificação - horror - atribuída ao filme, mas é, sem dúvida, um excelente suspense, e, ainda que tivesse prometido a mim mesmo não assistir mais a "filmes de susto", não resisti ao do espanhol Jaume Collet-Serra, também diretor de "A Casa de Cera" ("House of Wax", 2005). Como se vê pelo último post, sou absolutamente fascinado por thrillers.

Uma família aparentemente perfeita, não fossem a morte de uma filha e a deficiência auditiva de outra.

Uma filha adotiva aparentemente perfeita. Isabelle Fuhrman conduz sinistramente bem seu papel, com a frieza de um soldado - eu diria russo, pela (im)provável ascendência de Esther - em tempos belicosos. Uma pretensa garota-prodígio, gênio e manipuladora. Como acreditar em uma mulher alcóolatra ou em um marido infiel? O passado pode ser perdoado, nunca esquecido. Mas não gostei do segredo que explana suas atitudes. A ideia do complexo de Édipo me pareceu mais polêmico, real e instigante.

Agora, quem mais me encantou no filme foi a pequena canadense Aryana Engineer, aquela coisinha cuti-cuti da Maxine Coleman. Confesso que fiquei tenso e aflito durante a história toda, com medo do que pudesse acontecer com a Max, haja vista sua deficiência auditiva. E o emudecimento de vozes e sons em cenas de conversa da pititica é detalhe muito interessante. Em seu primeiro filme, Aryana é um show de ternura e representação.

sábado, 16 de janeiro de 2010

JUNGERSEN, Christian. A Exceção. Tradução de Ryta Magalhães Vinagre. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008. 560 p.
Ganhei o livro em fevereiro de 2008. Por um bom tempo, ele ficou esquecido na estante, sua leitura atropelada pela correria rotineira. E, finalmente, resolvi me envolver com sua leitura, que, inicialmente, me pareceu maçante e, hoje, depois de dois meses de leitura, terminei um dos melhores thrillers que já li.
Ambientado em Copenhague, Dinamarca, a históra mostra o dia a dia de profissionais que se divertem humilhando sua nova colega de trabalho, e as consequências desse terrorismo psicológico podem ser as mais infestas. O título do livro não poderia ser mais esclarecedor.
Mas o mais interessante no livro são os artigos da jornalista Iben Højgaard. Ao lado de referências reais a pesquisas e livros sobre assassinatos em massa, como The Nazi Doctors (Robert Jay Lifton), o autor teve o cuidado de mostrar textos "publicados" no fictício Jornal do Genocídio. Além do mais, toda a discussão sobre transtorno dissociativo de identidade, confesso, deixaram-me com uma pulga atrás da orelha. Qualquer um pode ser assassino. É "paranoicizante".

domingo, 3 de janeiro de 2010

Longa Madrugada


Madrugada longa e divertida. Assistimos a filmes até as 6h e ainda restava pique para mais um. Vimos Eating Out, Eating Out: Sloppy Seconds e Get Real. Os dois primeiros, sequenciais (o terceiro já está descendo), têm enredo fácil altamente erótico, mas valem pelas situações cômicas e embaraçosas a que os personagens se submetem em busca de sexo casual.

O último pretende-se provocativo e aborda a descoberta da homossexualidade entre adolescentes e o medo da descoberta, principalmente. Nada muito diferente de outros filmes do gênero.

Gosto desses filmes, principalmente, pelo processo catártico que desencadeiam. Na verdade, ferem como a famosa faca de dois gumes: ao mesmo tempo que renovam meus anseios de encontrar um amor veradeiro e único, jogam na minha cara o quanto ainda estou sozinho.

Na tela, vivo cenas, emoções e situações que desejo profundamente, pois jamais as vivi de fato. Sinto que perdi muito tempo, e agora já não dá mais tempo, a juventude está ficando para trás. Se tivesse feito só algumas coisas de um modo diferente, hoje tudo seria diferente. Teria ganhado mais em uns aspectos, perdido em outros que me acompanham. Compensações. Impossível ter tudo.