Ipsis Litteris

Revisão de textos



sábado, 27 de março de 2010

Apontamentos de gramática mineira

Sem dúvida, Minas Gerais tem uma cultura bem peculiar. Amo a cozinha mineira (não mais que a italiana, por motivos óbvios): costelinha de porco beeeeem gordurosa, polenta, quiabinho babento, jiló. Sim, jiló! Aprendi a comer jiló em Uberlândia, quando da decisão de superar alguns “limites gastronômicos”. Prefiro-o como prato frio, mas é bom de qualquer jeito.

Agora, é o jeitinho mineiro de falar que me diverte e espanta, às vezes. Em Uberlândia mesmo, não ouço muito o “mineirês” característico gostoso e engraçado, do tipo “oncotô”, “proncovô” e “doncovim”, naquela prosódia própria.

Entretanto, são recorrentes algumas expressões que muito me impressionam. Uma sobre que gostaria de falar é o tal “ir de a pé”. De a pé? Como assim?! Vai-se de carro, de ônibus, de avião, mas a pé, a cavalo. Talvez, para o mineiro uberlandense, o meio de locomoção seja o [carro], o [ônibus], o [avião], o [a pé], daí ir-se de carro ou de a pé. Contramão na via da economia linguística. Curiosamente, nunca ouvi um “Vou ‘de a cavalo’”.

Mas o que mais me choca é o uso deliberado do verbo dar em lugar de ter, em sentenças como “dei febre” e “dei sorte”. Excesso de generosidade? Se conheço quem me diz uma dessas pérolas, complemento com aquelas perguntinhas básicas didaticamente usadas para se encontrar o objeto do verbo: “E pra quem você deu a febre (ou a sorte)?”.  O riso, nessa hora, parece inevitável. Sorte eu até aceito, mas febre, dor de cabeça, não, obrigado. Absolutamente! Com estas fique você.

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