Ipsis Litteris

Revisão de textos



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Enigma da criação

“Good evening! This is the voice of Enigma”

Ainda me lembro como se fosse ontem: Natasha, personagem de Cláudia Ohana na novela global Vamp (entre 1991 e 1992), logo após trocar sua alma por sucesso musical com Conde Vladymir Polanski, personagem de Ney Latorraca, coloca um estéreo no chão da Piazza di San Marco, em Veneza, e aperta o play: “Procedamus in pace/In nomine Christi/Amen”. Era Sadeness (Part 1), e só mais tarde, quando eu ganhasse o vinil da trilha sonora da novela, é que eu finalmente descobriria seu nome e o artista que a produzira.

Desde então, Enigma tem-me sido uma obsessão. Encontrar os álbuns completos (o meu MCMXC a.D. não empresto para absolutamente ninguém), pesquisar o processo de composição, encontrar as letras e o significado dos múltiplos samples, enfim decifrar Enigma.

Que Enigma é esse?

Evolução. Revolução. Inovação. Emoção. Satisfação. Vida. Criação. Mas, acima de tudo, originalidade. Enigma é música que se reinventa a cada álbum, sempre deixando pegadas em seu percurso musical: Sadeness (Part 1), Return to Innocence, Beyond the Invisible, Gravity of Love, Voyageur, Dancing with Mephisto, La Puerta del Cielo.

O homem por trás do Enigma, Michael Cretu, é categórico: “Enigma is not an artist and it’s not a group. It’s a project, an idea” (http://bit.ly/fLqyOl). Reconhecer-se como projeto é não querer se engessar a conceitos cristalizados; é reconhecer a volatilidade das ideias; é permitir-se adaptar-se, transformar-se; é evitar repetir-se enfadonhamente em tentativas desesperadas de eternizar a mudança.

Essa insubmissão a formatos ou gêneros predefinidos, aliada à formação intelectual de Curly MC, epíteto de Michael Cretu – uma referência aos seus cabelos cacheados – confere elasticidade e plasticidade à produção musical de Enigma.

E como se reinventa esse projeto enigmático! Lascívia e cantos gregorianos, cantos aborígenes, letras em sânscrito, vozes hipnóticas, os Carmina Burana e aquela inconfundível sirene (o famigerado “Enigma foghorn”) que abre e fecha todos os álbuns.

Há 20 anos Enigma

Desde o lançamento do primeiro álbum, MCMXC a.D., em 1990, o projeto musical Enigma contabiliza 20 anos de produção que foram comemorados com uma ideia no mínimo engenhosa: criar uma música com a participação dos fãs pela internet nos estágios de produção. O processo, dividido em três partes, começou com a coleta de talentos vocais. Acessando o sítio exclusivo para o projeto, Enigma Social Song (http://bit.ly/hBz51R), os interessados deveriam postar um vídeo com uma composição original.

Como a primeira etapa (Stage 1: Your Voice) peneirava voz, os candidatos deveriam aplicar criatividade na técnica vocal e na essência da composição lírica, visto que o acompanhamento instrumental não era o foco da etapa. Os materiais participantes foram submetidos à aprovação dos internautas e os mais votados foram trabalhados em três diferentes versões, também postas à apreciação dos internautas.

Na segunda etapa (Stage 2:  Your Track), os internautas foram convidados a deliberar acerca das versões elaboradas por Cretu e indicaram aquela de que mais gostaram, além dos intrumentos que gostariam de ouvir na faixa musical colaborativa.

Em 15 de dezembro de 2010 veio à lume o resultado do processo organizado via web e a terceira e última etapa (Stage 3: Our Mix) de criação de uma música conjunta com os fãs: MMX (The Social Song). composição de Alise Ketnere (Fox Lima), Marcelo Amaral Pontello (Mark Joshua), Jérôme Pringault (J. Spring) e Rasa Veretenceviene (Rasa Serra).

Além da criação da faixa musical, os participantes também submeteram trabalhos de design gráfico para a criação da capa oficial do single, e todos os inscritos podem exibir orgulhosamente seu nome creditado no booklet que acompanha o single.

E o Enigma continua

No entanto, a experiência músico-colaborativa não se findou com o lançamento do single. O idealizador do Enigma almeja voos mais altos e recebe agora material para a criação de um videoclipe para MMX (The Social Song). Os requisitos estão listados no sítio exclusivo do evento. Vale a pena visitar o sítio oficial do projeto (www.enigmaspace.com), que pode fornecer muitas pistas acerca do “processo de criação musical Enigma”, em especial o artigo biográfico referente ao álbum Seven Lives many Faces (2008) (http://bit.ly/hTKqFB), não só para a participação no evento colaborativo, mas também para melhor compreensão da obra já publicada.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A revisão textual em tuítes – 2ª compilação

No calor do estrondoso sucesso já no début da primeira compilação de tuítes esquadrinhando a prolixidade e as peripécias da última flor do Lácio, figura pública e ambíguo certame de admiração e ódio, é com vultosa satisfação e uma discreta lágrima no canto do olho que vem à lume A revisão textual em tuítes – 2ª compilação. E no mesmo quimérico esforço de otimizar o conteúdo, nesta nova edição os tuítes foram agrupados por pertinência temática.

Deleitai-vos!

#ampliando_vocabulário

  1. ABREVIAÇÃO: redução do corpo fônico de uma palavra (auto, por automóvel); ABREVIATURA: redução de uma locução a uma sigla (ONU, Unesco, PhD). 5 jan
  2. 'opor' é 'contrapor' e 'apor' é 'justapor'. Compreendido?! rsrs. 5 jan
  3. sobrescritar' é 'sobrescrever' e 'subscritar' é 'subscrever'. Pegou essa também?! rsrs. 5 jan
  4. Cuidado: 'vultoso' é sinônimo de 'volumoso', 'importante', 'muito grande'; agora, 'vultuoso' é o aspecto do rosto congestionado, inchado. 20 jan
  5. 'absolutório': (adj.) que envolve ou contém absolvição; absolutivo#vocabulário. 28 jan

#ortografia

  1. E muçarela ainda é com 'ç', e não 'ss'! 18 jan
  2. 'portfólio' e 'porta-fólio': apesar de http://bit.ly/eHcxah recusar, a ABL autoriza ambas as#grafias (e com #acento) - vide Volp 5. ed. 28 jan
  3. 'performance' é estrangeirismo no português. Aplique grifo, quando usá-la em textos que exigem o vernáculo. #grafia. 28 jan

#acentuação

  1. Terminadas em -r, -i, -n, -l, -u ou -x, as paroxítonas ganham#acento gráfico: éter, âmbar, hálux, fóssil etc. 24 jan
  2. Esta é fácil: TODAS as proparoxítonas recebem#acento gráfico. O desafio é saber reconhecer uma proparoxítona(!). 24 jan
  3. Curiosidade: já reparou que 'proparoxítona' é proparoxítona? #acento. 24 jan
  4. A última palavra de cada verso da música "Construção", de Chico Buarque, é uma proparoxítona. Pode conferir!http://bit.ly/15LlRg #acento 24 jan
  5. Com a #reforma ortográfica,#acento diferencial só em 'pôr' e 'pôde'. Perderam o acento diferencial: 'para', 'pela', 'pelo' e 'polo'. 26 jan
  6. FACULTATIVAMENTE (1) recebem #acento 'fôrma' (substantivo) e 'dêmos' (pres. subj.) #reforma. 26 jan
  7. FACULTATIVAMENTE (2), o pret. perf. ind. recebe#acento, diferindo-se do homógrafo pres. ind. Comparem-se: amámos (pret.) e amamos (pres.). 26 jan

#conjunções_e_afins

  1. Atenção: são corretas as expressões 'à medida que' (proporção) e 'na medida em que' (causa). Outras combinações são consideradas incorretas. 5 jan
  2. Diante de particípio, não estranhe: o correto é 'mais bem' e 'mais mal' – mais bem informado, mais mal visto etc. 6 jan
  3. 'desde' indica origem no passado ("não fumo desde 2000"); 'a partir de', no presente ou no futuro. Na dúvida, use 'de ... em diante'. 18 jan
  4. Atenção: 'se não' expressa condição e é substituível por 'caso não'; 'senão' indica alternativa e é substituível por 'do contrário'. 19 jan
  5. Evite usar 'enquanto que', expressão impertinente ao português. Use apenas 'enquanto'. 20 jan

#hifenização

  1. Os prefixos 'além', 'aquém', 'ex', 'recém', 'sem' e 'vice' SEMPRE se unem COM #hífen à palavra seguinte (ex-presidente, ex-vice-presidente). 21 jan
  2. Espécies botânicas e zoológicas SEMPRE COM #hífen. Comparem-se: 'olho-de-boi' (peixe), mas 'olho de boi' (selo postal). #grafia #reforma. 24 jan

#verbo

  1. 'acreditar', 'supor', 'estimar' e similares pedem subjuntivo: "estima-se que seja grande a concorrência.". 14 jan
  2. Evite a expressão 'é tido como...', pois o verbo ter não admite voz passiva. Substitua-a por 'é considerado...' (sem a conjunção 'como'). 20 jan
  3. Twitter engajado na luta contra o #gerundismo: em vez de ‘vou estar enviando’ (18 caracteres), use ‘envio’ (5) ou ‘enviarei’ (8). #portuga. 24 jan

#trema

  1. Cadê o #trema que estava aqui? A #reforma ortográfica de 1990 tirou. Ah, que pena! Era de uso tão fácil e absoluto, sem nenhuma exceção. 24 jan

#concordância_nominal

  1. Atenção para a #concordância: 'gente' é substantivo feminino singular: "a gente está cansada" (mesmo que envolva elemento masculino). 28 jan

#generalidades

  1. Num restaurante em Uberlândia: "traíra sem espinhos". Nenhumzinho mesmo?! Que bom, assim não espeto o dedo... rsrs. 17 jan
  2. piadinha "dãr": 'voo' e 'diarreia' perderam o acento. Imagine só o drama de se ter uma caganeira num avião em pleno voo. 21 jan

to be continued…

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Unheilig–uma viagem ao mar

Para mim, não foi nenhuma surpresa encontrar a banda Unheilig entre os indicados ao prêmio Best Breaking Act International do Swiss Music Awards 2011 (http://bit.ly/gJrI93). A parceria entre a voz grave e suave de Der Graf e o estilo Neue Deutsche Härte novamente produziram mais um álbum delicioso aos ouvidos, Große Freiheit (2010) – doravante GF – o sétimo da banda alemã de Aachen (Renânia do Norte-Vestfália), em atividade desde 1999, liderada por Bernd Heinrich Graf (Der Graf – O Conde, em portugês) – hoje conta também com Henning Verlage (teclado), Christoph “Licky” Tremühlen (guitarra) e Martin “Potti” Potthoff (percussão).

GF é um álbum ímpar em sua composição. A maioria dos artistas simplesmente agrupa um número x de composições de acordo com o estilo ou um tema, mas sem um certa coesão interna.

Em GF, é muito nítida a ideia que alinha cada faixa entre si e lhe confere um grau de, digamos, desenvolvimento temático, um enredo mesmo, visto que o álbum conta uma história cujos capítulos correspondem às faixas. Tal tipo de aproximação entre composição de um álbum e literatura até então eu só conhecia no Pink Floyd – excetuando-se, por motivos óbvios, óperas, musicais e, talvez, trilhas sonoras.

E a história narrada em GF tem claramente identificados um começo, um meio e um fim. O mar é a grande inspiração de Der Graf e Verlage para as composições do álbum. Trata-se de uma viagem pelo mar, um lançar-se aos braços da liberdade, da grande liberdade (die große Freiheit).

A jornada começa com um chamado ao embarque (Das Meer):

Komm geh mit mir zum Meer

um auf ein Schiff zu geh´n.

Komm geh mit mir zum Meer

um in die Welt zu seh´n. […]

e vai terminar em novas terras (Neuland), faixa instrumental que trabalha “audiossensorialmente” o ouvinte.

Mas o percurso, como no mar, não é linear e envolve reviravoltas e, mais profundamente, toda a viagem é um processo de descobrimento pessoal.

Em Für immer, uma brincadeira gostosa: compartilhar tristezas, ansiedades, sonhos

[…] Weinst Du auch, wenn Deine Welt zerbricht?

Weinst Du? Ich weine mit!

Brauchst Du mich, wenn Du am Abgrund stehst?

Springst Du?

mas, na hora de compartilhar o salto (e aí eu ri fartamente quando ouvi a faixa pela primeira vez, pois me lembrei da famosa maria-vai-com-as-outras),

ICH HALTE DICH!

Adiante, Geboren um zu leben e Unter deiner Flagge são os carros-chefe do álbum, ambas com uma mensagem otimista, do tipo “conte comigo”. Quanto à “mensagem”, Unter deiner Flagge assemelha-se muito a An deiner Seite, faixa do sexto álbum, Puppenspiel (2008).

Já bem no meio do álbum, ou seja, em pleno alto-mar,

oh große Freiheit

ich hab mich nach dir gesehnt

du hast dich in mein Herz geträumt

es ist schön dich wieder zu sehn

e a sensação que se tem é que realmente o mundo é todo seu (“die Welt liegt dir zu Füßen”), basta abrir os braços para recebê-lo.

A viagem perfaz aproximadamente 1 hora, mas o tempo psicológico rende mais, muito mais, para o único personagem dessa viagem, o ouvinte. Der Graf é o narrador de voz maviosa, quase um canto de sereia, que, mediante o recurso de um discurso indireto livre, por vezes se apresenta como um companheiro nessa viagem.

Os videoclipes de Geboren um zu leben e Unter deiner Flagge estão impecáveis. Der Graf, como sempre, histriônico: um regente sem batuta conduzindo uma orquestra invisível.

Na Winteredition de GF, há mais 8 faixas, 3 inéditas (Schenk mir ein Wunder, Auf Kurs e Winterland), 2 outras versões para Winterland, 1 versão em piano para Geboren um zu leben e Unter deine Flagge (a voz de Der Graf já é, de per si, wunderbar, ao som de um piano então…) e uma narração do conto de fadas A Bela Adormecia (Der Graf list „Dornröschen“).

Estou de pleno acordo com um dos comentários postados no Myspace da banda (www.myspace.com/unheilig): com a voz que Der Graf tem, uma música com três ou quatro minutos dura muito pouco. Tem-se vontade de ouvir mais, muito mais. Já dei meu voto para a Unheilig no Swiss Music Awards 2011. Agora é torcer para que haja uma turnê pelo Brasil.

Site oficial da banda: www.unheilig.com

Facebook: www.facebook.com/Unheilig

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fim.

Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde

(Chico Buarque – Trocando em miúdos)

É mister reconhecer que acabou. Simplesmente acabou. Pra que continuarmos fingindo que tudo está bem, quando sabemos que não está. Mas saio de cara limpa e consciência tranquila, na certeza de que fiz até mais do que podia, mais que o necessário, mais que a minha parte. E não, eu nao falhei. Se houvesse mesmo culpa, a mim não caberia. Mas não há culpa, há sim responsabilidade, e a que a mim cabe assumi solenemente, sem pestanejar. E não, eu nao falhei. Fui fiel a nós, mas mais a mim mesmo, ao que sou, ao nome que paciente comigo trago desde que nasci – vencedor.

Gozamos todos de livre-arbítrio. Você fez uso do seu. Que posso eu, senão respeitá-lo? Dizem que quando um não quer, dois não brigam. Verdade absoluta! Por que haveria eu de querer suplantar vontades, tiranizá-las? Eu não quereria o poder sobre todos os livres-arbítrios. Eu não quereria a responsabilidade sobre a felicidade alheia. Eu queria, sim, ser parte da sua felicidade. Via de mão única: não vou tomá-la – talvez eu não tenha tempo hábil de engatar ré e me esquivar de uma rua, quiçá um beco, sem saída.

Mas não vou correu sozinho o caminha que devia ser de dois nem vou (mais) me torturar pondo em minhas débeis costas a responsabilidade que a mim não cabe. Ponhamos as cartas na mesa e em pratos limpos. Acabou.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Metrô em Uberlândia – conversinha tuitada

@CorreioOnline: Weliton Prado quer metrô para Uberlândia http://bit.ly/hs4qYK

@victormariottop: @CorreioOnline Metrô pra quê? Por que não melhorar o transporte público já existente? Ou ele crê que não haja o que melhorar?

@hchedid: @victormariottop Se nem os ônibus funcionam direito... imagine o metrô?!

@victormariottop: @hchedid há momentos que eu prefiro nem imaginar, pra não perder a vontade de viver...

@hchedid: @victormariottop ahahaha Um trem-bala (Araguari-Uberlândia) eu até aceitaria ahahahahah mas o metrô não!! kkkkk [@victormariottop Favorite + RT]

@hchedid: @victormariottop Mas... brincadeiras a parte, acho que o transporte público em Udia tem q melhorar...é um absurdo.

@victormariottop: @hchedid faltam linhas, carros, viagens. Ir do Central para o Umuarama é uma loucura. Às vezes espero 3 ou 4 carros, pra poder entrar também

@hchedid: @victormariottop Sim! Pior eu q tenho que i p Ipanema. Saio do central e sigo p Umuaram e dps Ipanema... é +demorado q ir p Araguari.

@hchedid: @victormariottop Isso porque quando a gente dá "sorte" do onibus do Ipanema estar no terminal ele tem que permanecer lá p pelo menos 20 min.

@victormariottop: @hchedid Nuuuu! Credo! E todo ano reajusta-se o valor do passe, mas não o serviço oferecido. É revoltante! Abaixo ao metrô do Prado!

@hchedid: @victormariottop E como vc falou, ainda temos q enfrentar os ônibus lotados... em alguns horários é impraticável.

@hchedid: @victormariottop ahahahaha é --> Abaixo o metrô do Prado!! Por um transporte público mais digno em Uberlândia! [@victormariottop Favorite + RT]

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A revisão textual em tuítes – 1ª compilação

Num quimérico esforço de reunir apenas os meu próprios tuítes honrosamente dedicados à divulgação dos meandros e de curiosidades da nossa querida e pretensa última flor do Lácio, publico a primeira de vindouras compilações que  prometem dinamizar e otimizar o conteúdo para aqueles que de pouco tempo dispõem para o acompanhamento diário in loco de tuítes.

  1. Sabe o que é composição por aglutinação? Assista, então, à abertura de "Afinal, o que querem as mulheres?" 28 nov
  2. 'onde' refere-se única e exclusivamente a lugar. Na dúvida, opte por 'em que'. 28 nov
  3. Não use nunca crase antes de nomes masculinos, exceto em referência à 'maneira de': vestir-se à David Backham. 29 nov
  4. Sabia que o pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico é quem sofre de pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose?! 30 nov
  5. Aspas somente para marcar ironia no texto. Para dar destaque a palavras ou frases, utilize itálico ou negrito, criteriosamente definidos. 1º dez
  6. Novas regras: EI e OI tônicos em ditongos e OO e EE perderam o acento: ideia, heroico, sobrevoo, creem, leem, deem veem #revisao. 2 dez
  7. Sinta-se à vontade para aportuguesar derivados de Twitter: tuitar, retuitar, tuitada #revisao. 2 dez
  8. Use 'através' como sinônimo de 'pelo interior de'. Na dúvida, use 'pelo', 'mediante', 'por intermédio de', 'com o auxílio de'. #revisao. 3 dez
  9. Evite usar 'junto com', expressão redundante. Em seu lugar, use 'e', mais simples e objetivo. 9 dez
  10. Evite ‘como’, ‘por exemplo’, ‘entre outros’ e ‘etc.’ na mesma frase. Porque são sinônimos, o uso conjunto é desnecessariamente redundante. 10 dez

to be continued

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

De livrilmes e filmivros

Adoro filmes, mas livros, eu simplesmente os amo. A verdade é que cada um deles tem a sua linguagem, ímpar, incomparável e inconfundível.

Livro é o exercício da criatividade, da imaginação (do autor e muito mais do leitor). Quando leio, viajo. E ja fui aos lugares mais insólitos que possa haver, como a Molvânia e o Phaic Tan (conhece? Vá lá, então!), em mundos fictícios e, por vezes, factuais (como é tênue a fronteira entre real e imaginação!). Certa vez fui ao inferno, acompanhado de Virgílio. Já fui até a mim mesmo, mas eu não estava em casa na época…

Quantos seres já conheci! Uma miríade, eu diria. São gentes, são bichos, são criaturas obstinadamente diversas, que moram em minhas estantes e vagueiam pelas minhas ideias. E quantos ofícios já aprendi! Já fui cavaleiro (pode acreditar: estive sentado ao lado de Arthur em sua famígera távola redonda), poeta, pirata, médico, cientista, astronauta, dançarina, cortesã, detetive, mocinho, bandido e por aí vai.

A leitura proporciona um tal grau de intimidade com o mundo daquelas palavras, que elas e ele passam a ser meus, em mim – segundo Sartre, “a leitura é criação dirigida. […] o objeto literário não tem outra substância a não ser a subjetividade do leitor” (SARTRE, O que é literatura?, 1989, p. 38).

O filme, ao contrário, não consegue suspender a distância entre o espectador e a tela, por maior que seja o ecrã. A história já está pronta, basta servir-se. Se o cinema é mágico, o é devido a recursos tecnológicos, como as dimensões da tela e a altura do som – já reparou que balançamos o corpo, numa tentativa de dança, quando uma música toca muito alto à nossa volta, ainda que não gostemos dessa música? É um efeito quase involuntário.

Mas o trunfo mesmo do filme – e do cinema, por extensão, – são os efeitos especiais. Esse conjunto de sensações visuais e auditivas dá ensejo aos desejos de uma equipe de criação (não aos meus) e possibilitam existência a lugares, seres e fatos que, até então, pulsavam latentes em mil cabeças criativas.

E quando me sento à frente de uma tela para assitir a um filme, quando disponibilizo parte de meu tempo e do meu mundo à concretização do projeto de um Peter Jackson, um Tarantino, um Kubrick ou um Pasolini, sentam-se comigo minha Erlebnis e a liberdade de aceitar tal projeto – e lhe dar continuidade – ou recusá-lo (Sarte outra vez). Na tela, projeta-se não somente a película. Há ali impressas expectativas em relação à produção que ora se confirmam, ora se refutam.

Essa experiência é mais fortemente sentida quando o projeto cinematográfico tem como base um livro ou a vida de uma personalidade. Cobra-se muito uma transposição fidedigna, o que nem sempre é possível, pois, como dito anteriormente, trabalham-se linguagens diferentes. Acrescentem-se a intenção da equipe de criação e a proposta com que é concebida a produção, além, claro, das ditas expectativas.

Por outro lado, quando leio, sou eu o ator, o diretor, a equipe de som, de edição, de efeitos especiais (e quem/o que mais for nercessário) de um filme que se passa em minha cabeça. Sou eu quem define a emoção dada a uma fala, a intensidade das cores do cenário, a firmeza dos traços do personnage. Entretanto nem sempre a minha criação coincide com a de Peter Jackson e cia. – ora a minha me parece melhor, ora a deles.

Recentemente tenho visitado e revisitado insistentemente a Terra Média. Tolkien tem-me sido um vício e uma ambição desde o primeiro momento em que fomos apresentados. A capacidade inventiva desse britânico nascido na África do Sul é-me peremptoriamente fascinante.

Mas devo confessar que alguns – e são poucos – episódios da saga do anel em O Senho dos Anéis ficaram muito mais bem representados cinematograficamente do que no livro ou mesmo em minha própria produção, como a investida dos Espectros do Anel à Comitiva de Anel no Topo dos Ventos. Agora, certamente eu também escalaria Ian McKellen e Kate Blanchet para os papéis de Gandalf e Galadriel, respectivamente (espero que também sejam eles a interpretar esses personagens no vindouro O Hobbit).

Acredito, portanto, que filme e livro não sejam substituíveis entre si, visto serem linguagens distintas e mobilizarem estratégias de apreensão próprias, mas possam, sim, ser complementares e promover profícuas intertextualidades.