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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Abba – algumas considerações

Há alguns dias, minha irmã mais velha assistiu ao espetáculo Mama Mia!, em São Paulo, e ficou extasiadíssima. Bem, ela não gosta de Abba, pelo menos não gostava, até ver o musical. Resolvi, então, revisitar o grupo sueco em minha audioteca.

Um feliz reencontro. São músicas muito divertidas, baladinhas gostosas de dançar, como a disco music em si, pela qual sou absolutamente fascinado – eu queria ter nascido pelo menos uns 15 anos antes de quando realmente nasci e vivido in actu a curtíssima efervescência disco.

No entanto, enquanto a Apple não divulga um app para o iPhone que me transporte para o começo da década de 1980, posso divagar nas lembranças dos que viveram a época – memórias registradas nas palavras de alguns amigos, em filmes, como The Last Days of Disco e Studio 54 (ambos de 1998), e em músicas como as do Abba.

E, como cada novo encontro com a mesma coisa revela novas perspectivas, até então não havia percebido como muitas músicas do Abba – e também da disco – são sexualizadas.

Não falo de uma sensualidade tímida, soft, um tempero na paquera, como em People need love (“Flowers in a desert need a drop of rain/like a woman needs her man”). Até mesmo a batalha de Waterloo, em Waterloo, ganha conotoções amorosas e, no que depender de anedotas brasileiras relativas a essa batalha, sexuais: diz-se por aí que Napoleão perdeu a guerra “de 4”– a História confirma: a França foi derrotada na referida batalha por quatro nações (Áustria, Holanda, Inglaterra e Prússia).

Em Dancing Queen, uma garota sedutora, em seus 17 anos, sai pelas noites de sexta à procura de diversão e brinca com a libido dos rapazes:

You're a teaser, you turn them on
Leave them burning and then you're gone
Looking out for another, anyone will do

Outra jovem garota (quem sabe se não a mesma) também inquieta os rapazes em Does your mother know? (a minha preferida e a meu ver a mais divertida) e parece estar numa discoteca sem o consentimento da mãe. Coisas de adolescentes…

And I can chat with you baby
Flirt a little maybe
Does your mother know that you're out?

Frenética, ansiosa, talvez até alucinada, deixa o rapaz desconcertado

But you seem pretty young to be searching                             for that kind of fun
So maybe I'm not the one

Mas a coisa fica mais direta em Voulez-vous?. Numa primeira leitura, tem-se apenas um convite para dança. No entanto, a maneira provocante como o eu lírico ambienta a cena autoriza interpretações outras, como o sexo sem compromisso. Além do mais, a dança pode ser vista como uma forma de sedução, um ritual de acasalamento. E o verso em francês confere mais sensualidade ao convite.

Voulez-vous?
Take it now or leave it
Now is all we get
Nothing promised, no regrets
Voulez-vous?
Ain't no big decision
You know what to do
La question c'est “voulez-vous?”

E, finalmente, o pedido é abertamente feito em Gimme! Gimme! Gimme!. O vazio do apartamento e das ruas levam o eu lírico a pedir insistentemente um homem (atesta o subtítulo da faixa, a man after midnight) que ajude a repelir as sombras e aproveitar melhor a madrugada:

Gimme, gimme, gimme a man after midnight
Won't somebody help me chase the shadows away
Gimme, gimme, gimme a man after midnight
Take me through the darkness to the break of the day

Obviamente, Abba não é somente sexo. Outras músicas dos suecos desenvolvem esse tema, mas também cantam a amizade, o amor, o rompimento amoroso, a fama, o conforto que o dinheiro proporciona. Bom, acho que já é hora de ouvir mais um pouco dessas músicas!

Um comentário:

Rubs disse...

Victor, vivi estes quinze anos que menciona. Todavia, as lentes estéticas são sempre exclusivas e mostram realidades com aspectos múltiplos. Penso que, de fato, houve um empobrecimento musical na década de oitenta. Prefiro as bandas de rock dos anos setenta.
Evidentemente, o rock progressivo está em minhas entranhas, assim como o blues. Pink Floyd, Jethro Tull, Bruce Dickison são míticos, para mim.