Ipsis Litteris

Revisão de textos



quinta-feira, 14 de abril de 2011

Anos 90: da tartamudez à frascaria

Conversa com amigos logo depois de uma apresentação cover de The Beatles há alguns dias na universidade suscitou uma revisitação a uns CDs da eurodance, dos saudosos anos 90. Muitos artistas de um hit só, outros que conseguiram emplacar um álbum (pelo menos no Brasil – um país de todos…). E dancei muito, mas muito mesmo, ao som de Nick French, Whigfield, Masterboy, Double You, Dr. Alban. E veja só! No You Tube, uma “versão 2002” de Cotton Eye Joe, de Rednex, um dos hits de uma fugaz onda country. Carái, véi! Eu tinha o CD do Rednex, mas demorei a perceber que, na capa, havia um penico entre os pés de um homem que urinava. E quem, à epoca, não tentou acompanhar o “Ski bi di bi di do bap do bap do ba do bap” do tartamudo Scatman John? Como me esforcei pra conseguir, mas nem mesmo as palavras de incentivo do artista

If the scatman can do it
So can you

puderam destravar minha língua. O Ice MC era outro que também me enrolava a língua muito mais com seu inglês dialetal do que com a celeridade com que cantava. Tente falar

D to an A to an N to an G to an E to an R to an O to an U to an S

em 3 segundos. “yes mi mus confess him cya.” Cuma? Que isso, companheiro? Fiz bastante ginástica linguocerebral pra entender o que o inglês Iam Campbell cantava.

Paralelamente, uma outra onda, agora latina, também invadiu as paradas de sucesso – e desapareceu tão prestamente quanto surgiu. Los Locos, El Simbolo, Los Argentos, além de versões calientes de outros hits da epoca, principalmente das músicas de Laura Pausini – La Solitudine virou La Soledad, Non c’è virou Se fue. Minha predileta era La Patchanga, com Vilma Palmas Y Vampiros.

Ah, claro! A prentensa sensualidade das músicas do alemão E-rotic. Na verdade era cômico acompanhar os gemidos da voz sensual de Lyane Leigh no refrão de Fritz loves my tits, ou de Fred, come to bed. E o mais impressionante é que, segundo a confiabilíssima Wikipedia, o projeto atravessou o século, atrevessou o milênio (!) e ainda lançou single em 2001, King Kong, no seu mesmíssimo estilo:

My lova lova King Kong turn me on
I want your ringa ding dong all night long

No entanto, quando o assunto é sexo, uma tentativa mais ousada tocou muito nas rádios e casas noturnas. O título mesmo já deixava explícita a impudicícia na letra. Na voz de (Sandra) Gillette e com produção de 20 Fingers, Short dick man fez muita gente dançar e cantar em “na-na-na” (alguns numa versão originalíssima em “la-la-la”) uma letra que ela nem sonhava o que significava. Não sem uma fração de maldade velada, eu ria copiosamente quando me diziam que adoravam aquela música. E me deliciava ao ver sua expressão de surpresa e desagrado quando se descobriam diante de tanta vulgaridade.

É bem certo que alguns se aproveitavam do conhecimento e dedicaram essa música para um ex-alguma-coisa, na explícita intenção de humilhá-lo, assim como o faz o “eu lírico” (se é que há um) da música  (sem desejar entrar no mérito da questão, decidi pressupor que seja uma música, pra efeitos didáticos). Dizer a um homem “Do you need some tweezers to put that thing away?” tem efeito tão devastador quanto dizer a uma mulher que ela está gorda. Todo homem é falocêntrico. E as mulheres, dizem, faloínvidas. Enfim, a sempterna guerra dos sexos.

Na mesma linha desmoralizante, Gillette ainda conseguiu uma pontinha de notoriedade com Mr. Personality: “They call you mr. Personality because you’re so ugly”.

Vê-se que o funk carioca não é assim tão inovador em matéria de baixaria. A diferença é que a maioria dos brasileiros entende o que vai nas letras. E a maioria dessa maioria não só entende, mas também canta, dança (outro conceito pressuposto) e ensina os “pititinhos” a dançar. A vilania faz escola, oferece plano de carreira, dita moda e amplia o acervo vocabular.

É, os anos 90 foram bastante democráticos em fonografia de importação.

O jeito é aumentar o volume quando chega a vez de M People ou Undercorver na playlist e esquecer que o que pode ser pode ser muito ruim também.

2 comentários:

Renata Ramos disse...

Oi, sumido! Adorei seu blog! Lendo seu post bateu aquela nostalgia dos velhos tempos, da nossa longínqua adolescência, de quando nos acabávamos de dançar na boite da AAO estas músicas sobre as quais você escreveu aqui. Beijão!!!

Unknown disse...

Mulher, como foi que você sumiu assim, sem nem me preparar psicologicamente? Fico muito feliz e [onde?] "ali, viado" (rs) de restabelecer contato. Imagine só deixar se perderem as lembranças da AAO... Nunca! Faltou um comentário sobre a Gala (lembra dela, né?). Eu aprendi a gostar da Gala por seu intermédio. FREED FROM DESIRE! hauhau. E tinha o "Abacatão" nessa época, lembra? Nóóó! Ainda bem que a gente cresce. Beijão e obrigado pela visita.